terça-feira, 4 de junho de 2013

Apelo aos homens


             Não quero ser um imperador. Esta não é minha função. Não quero nem dominar nem conquistar nada. Gostaria apenas de ajudar a cada um, cristãos, judeus, negros e brancos. Todos queremos nos amparar mutuamente. Os povos civilizados são assim. Queremos todos viver de nossa bondade mútua, e não de nossa desgraça. Não queremos fornecer alimentos para todos. O caminho da vida é livre e magnífico, mas nós nos perdemos deste caminho.
             A cobiça envenenou a alma dos homens, fechou o mundo num círculo de ódio e nos fez cair no sangue da miséria. Descobrimos a velocidade, mas nos tornamos escravos dela. A mecanização, que traz a abundância, só fez aumentar os nossos desejos e necessidades. Nossa ciência nos tornou cínicos. Nossa inteligência nos tornou duros e brutais.
             Racionamos muito, mas não cultivamos o sentimento. Precisamos mais de espírito humanitário do que de máquinas. Mais do que inteligência, necessitamos de amabilidade e gentileza. Sem isso, a vida só poderá ser violenta, e tudo estará perdido.
             A aviação e o rádio nos aproximaram uns dos outros. A própria natureza dessas invenções apelava para a bondade dos homens e reclamava uma fraternidade universal para a união de todos. Neste mesmo instante, minha voz chega a milhares de pessoas espalhadas pelo mundo.
             Aos que podem me ouvir, digo: não desesperem. A infelicidade que se abateu sobre nós não é outra coisa senão o resultado de um apetite feroz, da amargura dos homens que temem o progresso humano.  Ódio dos homens passará, os ditadores cairão, e o poder que eles usurpam do povo retornará ao povo. Enquanto os homens souberem morrer, a liberdade não morrerá.
             Soldados, não se entreguem a estes brutos, homens que na verdade os desprezam e que tratam a todos como se fossem escravos, mandando na vida de vocês, impondo atoa contrários à sua vontade, seus pensamentos, seus sentimentos, homens que nos tratam como gado e se servem de vocês como gado e carne para canhão.
             Não se entregue a esses homens brutais, esses homens-máquina. Vocês não são máquinas. Vocês não são gado. Vocês são homens! Vocês carrega o amor à humanidade no coração. Vivam sem ódio. Somente aqueles que não são amados odeiam. Os que não são amados e os anormais... Soldados, não combatam a favor da escravidão. Combatam pela liberdade!
             No Décimo Sétimo Capítulo do Evangelho Segundo Lucas está escrito: “O reino de Deus está no próprio homem”. Não num homem só, não em alguns homens, mas em todos os homens. Em vós também! O povo tem o poder. O poder de criar máquinas. O poder de criar a felicidade.
             Vós, o povo, tendes o poder de criar essa vida livre e esplêndida... de fazer desta vida uma radiosa aventura. Então, em nome da democracia, utilizemos este poder... unamo-nos todos! Combatamos por um mundo novo, um mundo limpo que dará a cada um a possibilidade de trabalhar, à juventude um futuro, o que colocará os velhos ao abrigo da necessidade.
             Prometendo tudo isso, os ambiciosos subirão ao poder. Mas eles mentirão. Não cumprirão suas promessas, jamais as cumprirão. Os ditadores ficaram livres, mas escravizarão o povo.
             Agora, combatamos para realizar essas promessas.
             Combatamos por um mundo equilibrado... um mundo de ciência, onde o progresso levará a felicidade a todos!
             Nós estamos entrando em um mundo novo... um mundo melhor... onde os homens se elevarão acima de seus apetites, de seu ódio e de sua brutalidade!

Charles Chaplin, trecho de Apelo aos

Homens (discurso final do filme O


Grande ditador)

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